'quem não inveja a infeliz, feliz
no seu mundo de cetim, assim,
debochando da dor, do pecado
do tempo perdido,
do jogo acabado'.
sábado, maio 02, 2009
no seu mundo de cetim
quinta-feira, abril 30, 2009
aí ele falou tudo, nada que eu não soubesse,
eu quis voltar na frase, palavra por palavra, até a inconsciência, antes daquela sentença.
isso é coisa que não se devolve, eu não quero consciência.
que fique claro: eu não gosto de kandinsky.
eu me pareço com esses desenhos tortos que você chama arte?
a mim você chama de louca?
como assim você está encerrando nossa conversa?
eu ainda estou chorando, tremendo, morrendo...
olha para mim e vê que não é fácil,
acho que não consigo e você não me dá a mão?
que ajuda é essa em que me empurras do penhasco?
ô seu desconhecido, pra quem é que eu conto isso?
olha pra mim e me vê gritando...
sabia que você parece meu pai?
pra que time você torce?
não, guarda essa mão, não me cumprimenta, não me dispensa.
você vai ao cinema?
tem mulher e filhos?
um abraço... talvez?
até a próxima, então.
terça-feira, abril 28, 2009
e é assim a vida,
são segundos em que se esquece tudo
a raiva invade e cega
quatro, cinco palavras malditas,
que entram como um soco,
se transformam num zunido que desnorteia
palavras que cortam,
um sentimento morto,
e é assim a vida,
anos para construir,
segundos para destruir,
e digam o que quiserem,
mas o meu amor não sobrevive a mágoa.
leite derramado.
eu gostaria de leite derramado de qualquer maneira, vindo do chico, eu acharia alguma graça, porque afinal gosto deveras dele e o gostar é muito mais de quem vê do que de quem é visto.
não li nenhuma crítica sobre o livro e discuti com uma pessoa apenas, depois de lê-lo, e o que digo é:
achei a história muito boa, daquelas que você não consegue largar, vidas que entram na sua, te acompanham, te seguem, te excitam, te enojam.
alguns personagens são incríveis e tão bem descritos que juro ter visto um na espera do cabelereiro, pensava neles e os imaginava em suas rotinas, em seus dois tempos no qual o livro se passa.
mas a beleza e propriedade com que o chico trabalha o português é ainda, para mim, o melhor de chico buarque(os olhos, talvez.... não, não).
sou uma pessoa de palavras e por isso fiz uma seleção singela de frases que achei admiráveis no livro e que me causaram algum tipo de inveja:
'onde costumo sonhar em preto-e-branco';
'a memória é uma vasta ferida';
'e corava pouco a pouco como se em dez minutos passasse por seu rosto uma tarde de sol';
'mas muitas vezes uma vida para no meio do caminho, não por ser uma linha curta, mas tortuosa';
'era como se a cada passo eu me rasgasse um pouco, porque minha pele tinha ficado presa naquela mulher';
'com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. porque ao nascer ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido a mulher como uma rosa. senão no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo mal fermenta';
'as pessoas não se dão ao trabalho de escutar um velho, e é por isso que há tantos velhos embatucados por aí, olhar perdido, numa espécie de país estrangeiro';
'era mesmo como flor, que as vezes ao mudar de vaso, fenece';
'é para si próprio que um velho repete sempre a mesmas história, como se assim tirasse cópia dela, para a hipótese da história se extraviar';
'é esquisito ter lembrança de coisas que ainda não aconteceram';
'um dia percebi que eu começara a esquecê-la, e era como se ela me largasse novamente';
'amava o filho com o olfato';
'todos sabemos como são as avós, são que nem mães abobalhadas';
'mas se com a idade a gente dápara repetir certas histórias, não é por demência senil, é porque certas histórias não param de acontecer em nós atéo fim da vida';