eu gostaria de leite derramado de qualquer maneira, vindo do chico, eu acharia alguma graça, porque afinal gosto deveras dele e o gostar é muito mais de quem vê do que de quem é visto.
não li nenhuma crítica sobre o livro e discuti com uma pessoa apenas, depois de lê-lo, e o que digo é:
achei a história muito boa, daquelas que você não consegue largar, vidas que entram na sua, te acompanham, te seguem, te excitam, te enojam.
alguns personagens são incríveis e tão bem descritos que juro ter visto um na espera do cabelereiro, pensava neles e os imaginava em suas rotinas, em seus dois tempos no qual o livro se passa.
mas a beleza e propriedade com que o chico trabalha o português é ainda, para mim, o melhor de chico buarque(os olhos, talvez.... não, não).
sou uma pessoa de palavras e por isso fiz uma seleção singela de frases que achei admiráveis no livro e que me causaram algum tipo de inveja:
'onde costumo sonhar em preto-e-branco';
'a memória é uma vasta ferida';
'e corava pouco a pouco como se em dez minutos passasse por seu rosto uma tarde de sol';
'mas muitas vezes uma vida para no meio do caminho, não por ser uma linha curta, mas tortuosa';
'era como se a cada passo eu me rasgasse um pouco, porque minha pele tinha ficado presa naquela mulher';
'com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. porque ao nascer ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido a mulher como uma rosa. senão no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo mal fermenta';
'as pessoas não se dão ao trabalho de escutar um velho, e é por isso que há tantos velhos embatucados por aí, olhar perdido, numa espécie de país estrangeiro';
'era mesmo como flor, que as vezes ao mudar de vaso, fenece';
'é para si próprio que um velho repete sempre a mesmas história, como se assim tirasse cópia dela, para a hipótese da história se extraviar';
'é esquisito ter lembrança de coisas que ainda não aconteceram';
'um dia percebi que eu começara a esquecê-la, e era como se ela me largasse novamente';
'amava o filho com o olfato';
'todos sabemos como são as avós, são que nem mães abobalhadas';
'mas se com a idade a gente dápara repetir certas histórias, não é por demência senil, é porque certas histórias não param de acontecer em nós atéo fim da vida';
Pássaros de papel não voam
Há 10 anos
2 comentários:
adorei!!!
vou ler!!!
aliás, apesar de ele ser homem, trata de assuntos do interesse feminino..quem sabe futuramente não lemos no clube??
bjus
Eu gostei da parte que ele diz que a cada dia, Matilde vinha buscar um pedaco da Eulalinha... Que aos poucos ia deixando de parecer com ela... Claro, isso escrito nas minhas palavras, aqui de bate-pronto...
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