quinta-feira, dezembro 18, 2008

vida na madrugada - primeiras impressões

karine afirma que é maior de idade, embora não pareça. são 2 horas da manhã e eu a encontro nas imediações da praça da república. ela tem olhos grandes mas apagados pelos 4 anos queimados nos cachimbos de crack. percebo que ela se sente desconfortável com a presença de marcelo, o motorista que faz a vez de meu segurança e peço para ele se distanciar um pouco. ela fala que pode largar a droga quando quiser, ‘mas o difícil é ver seus amigos fumando, né?!’. está apaixonada e eu pergunto se isso é bom: ‘bom e ruim, não sei se ele gosta de mim’. pra ela eu tenho cara de repórter, mas seus amigos podem achar que sou policial a paisana. ´você prefere que eu me afaste´?, pergunto a ela. ‘tanto faz’, ela responde, reflexo de uma postura que leva em outros aspectos da vida. as vezes ela demora a responder as perguntas e parece que entra num estado de inconsciência. ela dorme sempre na praça, mas quando chove, simplesmente não dorme. com a ponta dos dedos queimados ela traga um cigarro que já havia sido fumado por outra pessoa. ela aceita contar sua história na frente das câmeras, mas não titubeia em dizer que posso ser roubada. percebo a agitação dos seus companheiros que observam curiosos do outro lado da calçada. segunda-feira às 10 horas da noite. temos um próximo encontro, eu espero. adriana é loira, falante e gosta de ser garota de programa. diz ter sido capa da playboy, ‘mas a playboy lá de alagoas, não a daqui’. agora já não se acha mais bonita, e afirma que sabe ‘fazer direitinho’. tem um filho de 13 anos e não esconde dele a profissão. ‘da vida’ como diz, há 16 anos e sente prazer só às vezes. aceita filmar sua história, mas quer receber pelo menos 200 reais e beber umas vodkas antes. tem medo de parecer gorda no vídeo e se orgulha do cabelo, ‘que é meu mesmo’, como diz. dentro da casa onde faz ponto me apresenta lúcia, a gerente do lugar: ‘você quer me arrumar confusão trazendo repórter cá pra dentro, né?!’. aos poucos conquisto a confiança da mulher que não parece uma cafetina e sim um cafetão. ela tem esperança no projeto do gabeira, que quer regularizar a prostituição. perto do bar um senhor idoso, de aparência nada agradável, que recebe elogios de uma garota com, no máximo, 19 anos. ele fica garboso e começa a tocar sua barriga a mostra. a cena um pouco grotesca me chama a atenção, mas evito tirar os olhos por muito tempo de lúcia, que a essa altura reclama do kassab. ela trabalha na noite há 25 anos e gosta: ‘é um trabalho como outro qualquer’. me explica algumas coisas da vida das meninas e já não tem mais a postura hostil. quando deixo o lugar ela pede ao motorista-segurança que cuide bem de mim. ainda nas imediações da dua augusta entro numa casa noturna e vejo um monte de garotas que desfilam de seios de fora. eu coberta até o pescoço me sinto destoar do ambiente cheio de todo o tipo de homem. dou uma volta completa no lugar e não consigo contato com nenhuma menina. fico observando um pouco, consciente que meu tempo dentro da casa, sem pagar, está se acabando. quase na porta escuto ‘que sorriso bonito’... me sinto desconfortável, mas relevo... são ossos do ofício. antes de ir embora visito outra casa de prostituição. o lugar tem um cheiro desagradável e as meninas têm um perfil bem diferente. a que dança no palco tem mais de 40 anos e uma cicatriz no baixo ventre. cinco reais com direito a uma cerveja é o preço para estar naquele lugar que parece um banheiro grande. ‘a noite está movimentada’comenta verônica, mesmo com 4 possíveis clientes disputados por 6 mulheres que precisam fazer a noite render. verônica é a única realmente bonita. um rosto marcante de bochechas salientes, boca desenhada, nariz pequeno. trabalha como garota de programa há um mês: ‘a situação ficou difícil’. eu a achei tímida no começo, mas depois acho que é a tristeza que a deixa séria. ‘você é repórter’, pergunta ela, dizendo que eu tenho cara de repórter. os possíveis clientes saem, fico eu, marcelo, que estava um pouco constrangido com a situação, e as garotas. vou até o outro lado do salão, onde kátia que dançava quando cheguei, está sentada. é garota de programa por falta de opção. tem uma filha de 18 anos de quem esconde a profissão. ‘ela vai ser alguma coisa da vida, eu pago estudo pra ela’. nossa conversa é interrompida, o homem que estava na porta na hora da entrada chama kátia pra conversar. provavelmente adverti-la sobre a conversa comigo. eu acho melhor ir embora. as cenas da noite roubaram meu sono. mas pela primeira vez eu me sinto uma repórter de verdade.

terça-feira, dezembro 16, 2008

a saudade mostra uma outra face: irritante. essa saudade me irrita! 'saudade é o sentimento mais urgente que existe'. clarice lispector

segunda-feira, dezembro 15, 2008

um repórter iraquiano jogou um sapato no presidente george w. bush. eu adorei. eu acredito no poder do diálogo e não gosto de violência, mas achei uma pena que o sapato voador não tenha acertado o senhor bush na fuça. que ele merecia, merecia!