terça-feira, abril 28, 2009

leite derramado.

eu gostaria de leite derramado de qualquer maneira, vindo do chico, eu acharia alguma graça, porque afinal gosto deveras dele e o gostar é muito mais de quem vê do que de quem é visto.
não li nenhuma crítica sobre o livro e discuti com uma pessoa apenas, depois de lê-lo, e o que digo é:
achei a história muito boa, daquelas que você não consegue largar, vidas que entram na sua, te acompanham, te seguem, te excitam, te enojam.
alguns personagens são incríveis e tão bem descritos que juro ter visto um na espera do cabelereiro, pensava neles e os imaginava em suas rotinas, em seus dois tempos no qual o livro se passa.
mas a beleza e propriedade com que o chico trabalha o português é ainda, para mim, o melhor de chico buarque(os olhos, talvez.... não, não).
sou uma pessoa de palavras e por isso fiz uma seleção singela de frases que achei admiráveis no livro e que me causaram algum tipo de inveja:
'onde costumo sonhar em preto-e-branco';

'a memória é uma vasta ferida';

'e corava pouco a pouco como se em dez minutos passasse por seu rosto uma tarde de sol';

'mas muitas vezes uma vida para no meio do caminho, não por ser uma linha curta, mas tortuosa';

'era como se a cada passo eu me rasgasse um pouco, porque minha pele tinha ficado presa naquela mulher';

'com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. porque ao nascer ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido a mulher como uma rosa. senão no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo mal fermenta';

'as pessoas não se dão ao trabalho de escutar um velho, e é por isso que há tantos velhos embatucados por aí, olhar perdido, numa espécie de país estrangeiro';

'era mesmo como flor, que as vezes ao mudar de vaso, fenece';

'é para si próprio que um velho repete sempre a mesmas história, como se assim tirasse cópia dela, para a hipótese da história se extraviar';

'é esquisito ter lembrança de coisas que ainda não aconteceram';

'um dia percebi que eu começara a esquecê-la, e era como se ela me largasse novamente';

'amava o filho com o olfato';

'todos sabemos como são as avós, são que nem mães abobalhadas';

'mas se com a idade a gente dápara repetir certas histórias, não é por demência senil, é porque certas histórias não param de acontecer em nós atéo fim da vida';

2 comentários:

Giovanna Borgh disse...

adorei!!!
vou ler!!!

aliás, apesar de ele ser homem, trata de assuntos do interesse feminino..quem sabe futuramente não lemos no clube??

bjus

Marlon disse...

Eu gostei da parte que ele diz que a cada dia, Matilde vinha buscar um pedaco da Eulalinha... Que aos poucos ia deixando de parecer com ela... Claro, isso escrito nas minhas palavras, aqui de bate-pronto...